segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

"FILOSOFANDO"

Mais um pouco de poesia de F. Pessoa:

Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei se me falta escrúpulo espiritual, ponto de apoio na inteligência.
Consaguinidade com o mistério das coisas, choque aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruidos, ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz..

Seja o que for, era melhor não ter nascido, porque, a vida de tão interessante que é a todos os momentos.
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger, a dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de cair para o chão, de sair para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas.

E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos.
Entre tombos e perigos e ausencia de amanhãs.
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso.
Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida (...)

Fernando Pessoa ( Alvaro de Campo) - no poema "a passagem das horas"


Para quem não conhece, esta parte do poema de F. P. é cantado por Maria Bethânia, cuja faixa tem precisamente o mesmo nome : passagem das horas.
Para quem gosta da M. Bethânia, vale a pena ouvir com todos os sentidos. Isto é : saborear, cheirar .... enfim,: SENTIR.

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