A Cena do Ódio foi escrita por Almada Negreiros e dedicada a Fernando Pessoa.
Oiçam bem.
Vejam o quanto actual está ...!
Quem dera tivessemos mais Almadas Negreiros, Fernandos Pessoa, Mários Viegas, e tantos... tantos outros que já cá não estão...
Mas ... eu... eu com a minha imaginação sempre a fervilhaaar... posso sempre imaginar o que diriam... sim... o que diriam deste nosso jaaaaaardiiiim im im im... à beira mar plantado.
Mas, também não seria necessário dizer mais que isto - pois o que disseram adapta-se na perfeição à nossa realidade actual.
Só há aqui um senão, meu caro Almada... as mulheres portuguesas estão mais bonitas. Agora... Vestem e cheiram a Dior e a Ives Saint Laurent... Acho que irias gostar ... ou não !!!!
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros de que seria bom que eu os ouvisse .
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços e nunca vou por ali...
A minha glória é esta: Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe
Não, não vou por aí!
Só vou por onde me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos,
Arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós que me dareis impulsos, ferramentas, machados e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o longe e a miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se levantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!
José Régio
Que poema extraordinário..!!!! Não acham ?
Algumas notas biográficas
José Régio (1901 - 1969 )
José Régio nasceu em Vila do Conde, norte de Portugal .
José Régio é o seu pseudónimo. Na realidade chamava-se José Maria dos Reis Pereira.
Licenciou-se na Universidade de Coimbra em Filosofia Romântica (1925).
Como escritor dedicou-se ao romance, teatro, poesia e ensaio.
Nas suas obras está sempre patente as problemáticas do conflito entre Deus e o homem, o indivíduo e a sociedade, analisando criticamente as relações humanas e a solidão.
Assim, como podemos verificar no seu poema Cântico Negro, a auto-análise e a introspecção são constantes na sua obra.
A sua poesia, de grande tensão lírica e dramática, apresenta-se frequentemente como uma espécie de diálogo entre níveis diferentes da consciência . A mesma intensidade psicológica, aliada a um sentido de crítica social.
Em 1916, José Alamada Negreiros, publica o Manifesto Anti-Dantas. (Almada tinha 23 anos).
Este foi imprimido em 8 páginas, com papel de embrulho.
Apesar de Almada se dirigir a Julio Dantas - expoente máximo das letras portuguesas de então - Não é somente Dantas que ele quer visar -
Com este Manifesto ataca implacavelmente o mundo cultural e artistico vigente. Sendo portanto os valores tradicionais, quer no aspecto cultural, jornalistico e académico que pretendia abalar. Isa Magalhães
…que eu não posso exigir o amor de ninguém. Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim e ter paciência para que a vida faça o resto;
…que não importa o quanto certas coisas são importantes para mim, tem gente que não dá a mínima e jamais conseguirei convencê-las;
…que posso passar anos construindo uma verdade e destruí-la em apenas alguns segundos.
Eu aprendi…
…que posso usar meu charme por apenas 15 minutos, depois disso, preciso saber do que estou falando;
…que posso fazer algo em um minuto e ter que responder por isso o resto da vida;
…que por mais que você corte um pão em fatias, esse pão continua tendo duas faces, e o mesmo vale para tudo que cortamos de nosso caminho.
Eu aprendi…
…que vai demorar muito para me transformar na pessoa que quero ser e devo ter paciência;
…que posso ir além dos limites que eu próprio me coloquei;
…que eu preciso escolher entre controlar meu pensamento ou ser controlado por ele.
Eu aprendi…
…que os heróis são pessoas que fazem o que acham que devem fazer naquele momento, independentemente do medo que sentem;
…que perdoar exige muita prática;
…que há muita gente que gosta de mim, mas não consegue expressar isso.
Eu aprendi…
…que nos momentos mais difíceis, a ajuda veio justamente daquela pessoa que eu achava que iria tentar piorar minha vida;
Eu aprendi…
…que eu posso ficar furioso, tendo o direito de me irritar, mas não tenho o direito de ser cruel. Eu aprendi…
…que a palavra “AMOR” perde o sentido, quando usada sem critério;
…que certas pessoas vão embora de qualquer maneira;
…que é difícil traçar uma linha entre ser gentil, não ferir as pessoas, e saber lutar pelas coisas que eu acredito.
Se aprendessemos algumas coisas, tudo seria mais fácil… certas coisas realmente eu já aprendi… outras… ainda não… estou tentando… o que vale é a intenção...
Começo a conhecer-me. Não existo. Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram, Ou metade desse intervalo, porque também há vida... Sou isso, enfim... Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor. Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo. É um universo barato.
Estou a ler um livro de Pablo Neruda que tem como título "Confesso que Vivi".
Tal como o titulo sugere, trata-se da sua autobiografia.
Estou deliciada com a leitura deste livro... Todo ele é poesia...!
sugiro vivamente que o leiam.
Para vos aguçar o apetite quero aqui escrever um pequeno trecho deste livro:
A Palavra
São as palavras que cantam, que sobem e descem...
Prosterno-me diante delas...
Amo-as, abraço-as, persigo-as, mordo-as...
Amo tanto as palavras...
As inesperadas...
As que glutonamente se amontoam, se espreitam, até que de súbito caem...
Vocábulos amados...
Brilham como pedras de cores, saltam como irisados peixes, são espuma, fio, metal, orvalho...
Persigo algumas palavras...
São tão belas que quero pô-las a todas no meu poema...
Agarro-as em voo, quando andam a adejar, e caço-as, limpo-as, descasco-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como àgatas, como azeitonas...
E então revolvo-as, agito-as, bebo-as, trago-as, trituro-as, alindo-as...
Deixo-as como estalactites no meu poema, como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes das ondas...
Tudo está na palavra...
Uma ideia inteira altera-se porque uma palavra mudou de lugar, ou porque outra se sentou como um reizinho dentro de uma frase que não a esperava, mas que lhe obedeceu...
Elas têm sombra, transparência, peso, penas, pêlos, têm de tudo quanto se lhes foi agregando de tanto rolar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto serem raízes...
São antiquíssimas e recentíssimas...
Vivem no féretro escondido e na flor que desponta...
Que bom idioma o meu, que boa lingua herdámos dos torvos conquistadores...
Andavam a passo largo pelas tremendas cordilheiras, pelas américas encrespadas, em busca de batatas, chouriço, feijões, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele voraz apetite que nunca mais se viu no mundo...
Tudo engoliam, juntamente com as religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que traziam nas grandes bolsas...
Por onde passavam ficava arrasada a terra...
Mas aos bárbaros caíam das botas, das barbas, dos elmos, das ferraduras, como pedrinhas, as palavras luminosas que ficaram aqui, resplandecentes...
O idioma.
Ficámos a perder...
Ficámos a ganhar...
Levaram o ouro e deixaram-nos o ouro...
Levaram tudo e deixaram-nos tudo...
Deixaram-nos as palavras.
Já leram algo mais belo acerca das palavras ??? Pois eu, eu.. Não tenho palvras... só emoções...
Invejo — mas não sei se invejo — aqueles de quem se pode escrever uma biografia, ou que podem escrever a própria. Nestas impressões sem nexo, nem desejo de nexo, narro indiferentemente a minha autobiografia sem fatos, a minha história sem vida. São as minhas Confissões, e, se nelas nada digo, é que nada tenho que dizer .
É desta forma que F. Pessoa começa a sua "biografia" - livro do Desassossego -
Que génio...! Que imperador das palavras...! Não acham?
Abelha branca zumbe ébria de mel em minha alma e te estorces em lentas espirais de fumaça. Sou o desesperado, a palavra sem ecos, o que perdeu tudo, e o que tudo esvai. Última amarra, ruído em ti minha ansiedade última. Em mim gritas deserta e é tua a última rosa. Ah silenciosa! Fecha teus olhos profundos. Ali tange a noite. Ah nua, teu corpo de estatua temerosa. Tens olhos profundos de onde a noite se faz. Frescos braços de flor e regaço de rosa. Se parecem teus sonhos como brancos caracóis. Veio a dormir em teu ventre uma mariposa da sombra. Ah silenciosa! Aqui se fez a solidão de onde estava ausente. Chove. O vento do mar caça errantes gaivotas. A água anda descalça pelas ruas molhadas. Daquela árvore se queixam, como enfermas, as folhas. Abelha branca, ausente, zumbindo em minha alma. Renasce entre o tempo, delgada e silenciosa. Ah silenciosa!
O homem é a águia que voa; a mulher, o rouxinol que canta. Voar é dominar o espaço e cantar é conquistar a alma. Enfim, o homem está colocado onde termina a terra; a mulher, onde começa o céu. Victor Hugo