segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

NADA ME PERTENCE

Tudo o que sei aprendi dos outros. Qualquer coisa que adquira, é obra de outros, e - que importa que as tenha pago? -
Sem o operário, escritores, artistas estaria nua.

Senão vejamos:
Se quero deslocar-me, tenho necessidade de máquinas que não foram fabricadas por mim.
Falo uma lingua que não inventei, e, os que vieram antes impoem-me sem que me aperceba, os seus gostos, os seus sentimentos, os seus preconceitos.

Se desmonto o meu EU encontro sempre fragmentos que vieram de fora. De tal forma, que poderia pôr, em cada um deles, uma etiqueta de origem. Isto dos meus avós, isto da minha mãe, Isto da minha primeira amiga.
Assim, ao fazer o inventário das apropriações, o Eu converte-se numa forma vazia.

Pertenço a uma classe, a um povo, a uma raça.
Não consigo evadir-me, faça o que fizer, de certos limites que não foram traçados por mim.
Cada ideia não é mais do que um eco.

Nada me pertence na realidade. As alegrias que desfruto devo-as ao trabalho e à inspiração de homens que já não existem, ou que nunca conheci.

Sei o que recebi, mas ignoro quem mo deu.

Tudo o que sou devo-o aos outros. Abandonada a mim própria, continuaria selvagem alimentando-me de raízes...

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