sexta-feira, 9 de outubro de 2009

" Abram as janelas... deixem-nos respirar...!!!




«Ultimatum» de Álvaro de Campos

Mandado de despejo aos mandarins da Europa! Fora.


Fora tu,

Anatole-France,

Epicuro de farmacopeia-homeopática,

ténia-Jaurès do
Ancien-Régime,

salada de Renan-Flaubert

em louça do século dezassete,
falsificada!


Fora tu, Maurice-Barrès, feminista da Acção,

Chateaubriand de paredes nuas,
alcoviteiro de palco da pátria de cartaz, bolor da Lorena, algibebe dos mortos dos
outros, vestindo do seu comércio!


Fora tu, Bourget das almas, lamparineiro das partículas alheias, psicólogo de
tampa de brasão, reles snob plebeu, sublinhando a régua de lascas os
mandamentos da lei da Igreja!


Fora tu, mercadoria Kipling, homem-prático do verso, imperialista das sucatas,
épico para Majuba e Colenso, Empire-Day do calão das fardas, tramp-steamer da
baixa imortalidade!


Fora! Fora!


Fora tu, George-Bernard-Shaw, vegetariano do paradoxo, charlatão da sinceridade,
tumor frio do ibsenismo, arranjista da intelectualidade inesperada, Kilkenny-Cat de
ti próprio, Irish-Melody calvinista com letra da Origem-das-Espécies!


Fora tu, H. G. Wells, ideativo de gesso, saca-rolhas de papelão para a garrafa da
Complexidade!


Fora tu, G. K. Chesterton, cristianismo para uso de prestidigitadores, barril de
cerveja ao pé do altar, adiposidade da dialéctica cockney com o horror ao sabão
influindo na limpeza dos raciocínios!


Fora tu, Yeats da céltica-bruma à roda de poste sem indicações, saco de podres
que veio à praia do naufrágio do simbolismo inglês!


Fora! Fora!


Fora tu, Rapagnetta-Annunzio, banalidade em caracteres gregos, «D. Juan em
Pathmos» (solo de trombone)!


E tu, Maeterlinck, fogão do Mistério apagado!


E tu Loti, sopa salgada fria!


E finalmente tu, Rostand-tand-tand-tand-tand-tand-tand-tand!


Fora! Fora! Fora!


E se houver outros que faltem, procurem-nos por aí pra um canto!


Tirem isso tudo da minha frente!


Fora com isso tudo! Fora!


Ai! que fazes tu na celebridade, Guilherme-Segundo da Alemanha, canhoto maneta
do braço esquerdo, Bismarck sem tampa a estorvar o lume?!


Quem és tu, tu da juba socialista, David-Lloyd-George, bobo de barrete frígio feito
de Union Jacks?!


E tu, Venizelos, fatia de Péricles com manteiga, caída no chão de manteiga para
baixo?


E tu, qualquer outro, todos os outros, açorda Briand-Dato. Boselli da incompetência
ante os factos todos os estadistas pão-de-guerra que datam de muito antes da
guerra!

Todos! todos! todos!

Lixo, cisco, choldra provinciana, safardanagem
intelectual!


E todos os chefes de estado, incompetentes ao léu, barris de lixo virados para
baixo à porta da Insuficiência da Época!


Tirem isso tudo da minha frente!


Arranjem feixes de palha e ponham-nos a fingir gente que seja outra!


Tudo daqui para fora! Tudo daqui para fora!


Ultimatum a eles todos, e a todos os outros que sejam como eles todos!


Senão querem sair, fiquem e lavem-se.

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