quinta-feira, 2 de julho de 2009

JAZ MORTO E ARREFECE O MENINO DE SUA MÃE


No plaino abandonado

Que a morna brisa aquece,

De balas trespassado - Duas, de lado a lado -

Jaz morto, e arrefece.


Raia-lhe a farda o sangue.

De braços estendidos,

Alvo, louro, exangue,

Fita com olhar langue

E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!

(agora que idade tem?)

Filho unico, a mãe lhe dera

Um nome e o mantivera:

«O menino de sua mãe.»


Caiu-lhe da algibeira

A cigarreira breve.

Dera-lhe a mãe.

Está inteira

E boa a cigarreira.

Ele é que já não serve.


De outra algibeira, alada ponta a roçar o solo,

A brancura embainhada de um lenço…

deu-lho a criada velha que o trouxe ao colo.


Lá longe, em casa, há a prece:

“Que volte cedo, e bem!”

(Malhas que o Império tece!)

Jaz morto e apodrece

O menino da sua mãe

Fernando Pessoa


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