sexta-feira, 10 de julho de 2009

Livro de Pablo Neruda "Confesso que Vivi"



Acabei de ler este livro de Pablo Neruda. É a sua biografia.

Para vos aguçar o apetite, aqui vai um "cheirinho..." . Isto é: um pequeno resumo do livro.



Confesso que Vivi, é um livro feito de sensações: alegrias, tristezas, derrotas, triunfos. Mas, principalmente de luz, cor e odores. Definitivamente memórias feitas de poesia .


CONFESSO QUE VIVI


“A minha vida é uma vida feita de todas as vidas – As vidas do poeta.”

É esta a frase com que Pablo Neruda termina as suas notas introdutórias.

Também eu confesso, que ao ler as suas memórias tive esse sentimento, essa sensação.

Pablo Neruda – nome que pede emprestado a uma revista estrangeira, cuja linguagem era desconhecida para ele – começa por descrever onde nasce.

Não cita datas nem coordenadas. Antes nos descreve de forma maravilhosamente poética e bela o seu bosque Chileno.
Descreve-nos as formas, odores, falas e silêncios da fauna existente.
Fala-nos de uma nação de pássaros, de uma multidão de folhas:
Da aranha vermelha que o observava com olhos fixos; das folhas envelhecidas; dos troncos apodrecidos repletos de tesouros com os seus fungos, plantas e outros parasitas que neles fizeram a sua casa; das flores multicolores que por lá proliferam; das borboletas bailando por entre estas a água e a luz.

Enfim, tudo é descrito de tal forma, que também nós conseguimos, sem nunca lá ter estado, cheirar, ouvir e sentir até à alma, o seu belo bosque chileno.

Sobre a sua infância imaginemos então, um menino tímido e solitário, fazendo-se homem neste cenário magnífico, tendo por companhia o que mais belo existe no mundo: montanhas, bosques e praias infindas.
Menino pobre e solitário de humanos, mas mesmo assim milionário...

É desta forma que o vislumbro: Vestido de negro; os bolsos cheios de escaravelhos; numa caixa leva uma aranha.
Fazendo descobertas que fariam inveja a Darwin ou Cousteau. Descobrindo, por exemplo, que os cisnes, afinal, quando morrem não cantam …

Nos dias de chuva lia e escrevia:

- Lia Búfalo Bill, viagens de Salgari e Sandokan.
- Escrevia cartas de amor à filha do Ferreiro por troca de marmelos que nunca saboreou…

Sobre a sua infância diz-nos: “A minha personagem inesquecível foi a chuva” e confessa-nos que
“nasci para a vida para a terra, para a poesia e a chuva”

Em 1921 (com 17 anos) vai estudar para a grande cidade – Santiago – onde se sente perdido.
Lentamente vai criando amizades.
Colabora em várias revistas.
Publica os seus primeiros poemas.
Ganha os seus primeiros prémios literários.

Pensa partir para Paris – onde estava a cultura…
É o amigo Biande quem o apresenta a um Ministro, o qual lhe dá um cargo diplomático, mas, em vez de Paris vai para Rangum.

Os conhecimentos, quer humanos, quer geográficos alargam-se na sua viagem para o Oriente:
- Passa pela China e Japão – onde conhece imperadores – aproveitando esses momentos para saciar a fome;
- Conhece Gandhi.

Enamora-se por tudo: os gestos, os cheiros, as sensibilidades...
De quando em vez por uma ou outra nativa.

Em Ceilão, instalado num pequeno bungalow junto ao mar, tem por
companhia um cão, um mangusto, o boy e os livros.
Sobre Ceilão confessa-nos esta ser “uma terra sonora envolvida em sombra e aroma”.

Depois é nomeado cônsul de Singapura e Batávia simultaneamente. Regressa ao Chile em 1932.

Em 1933 é nomeado cônsul do Chile em Buenos Aires.
Aí o seu leque de amizades dilata-se .
Entre eles destaco Frederico Garcia Lorca, cuja amizade se vai intensificar no ano seguinte com a sua ida para Espanha.
Aqui é recebido por Lorca que o apresenta a todos os seus amigos.
É uma panóplia de verdadeiras amizades que vai construir em Espanha: poetas, escritores, músicos e pintores. Todos conheceu, amou e foi amado.

Sobre Espanha, que Neruda tanto amou, retenho o seguinte: “os rios verdadeiros de Espanha são os seus poetas: Quevedo com as suas águas verdes e profundas…; Calderón, com as suas sílabas que cantam; os cristalinos Argensolas; Gongora, rio de rubis”.

Entretanto, com a Guerra Civil Espanhola, Pablo assiste à prisão ou morte de muitos dos seus amigos. Entre eles está Lorca que é assassinado em Granada.
Sobre Lorca, Pablo diz: “ele era um multiplicador de beleza…, tinha magia nas mãos; ria, cantava, musicava, saltava, inventava, jorrava. Muito pobre, possuía todos os dons do mundo”.

Afastado do cargo em Espanha é colocado em Paris.
No grande círculo dos poetas/escritores e pintores, a todos ajuda e por todos é ajudado.
De todos (entre eles Picasso, Gabriel Garcia Marquez, Jorge Amado) tem uma história para contar. Histórias de vida que nos enternecem, nos fazem sorrir e, por vezes chorar…

De volta ao Chile a sua estadia por lá é curta. Pablo é enviado novamente para França, desta vez como cônsul encarregado da Emigração Espanhola cuja missão era ajudar a tirar espanhóis das prisões e enviá-los para o Chile.
Segundo Neruda, esta foi a mais nobre missão que desempenhou.
Para ele, cada pessoa chegada do cativeiro era um “romance com capítulos, prantos, risos, solidões, idílios.”

Em 1940 é enviado para o México que descreve como sendo o “último país mágico”.

Depois vem o exílio e com ele o conhecimento de novos países que ele descreve sempre com enorme poesia…

Em 1970 é convidado a candidatar-se a presidente. Ele acaba por declinar em favor de Allende.

Em 1971 recebe, finalmente, o Prémio Nobel.

Em 1973 morre o poeta que viveu e descreve as palavras desta forma:

“…amo as palavras, abraço-as, persigo-as, mordo-as, derreto-as … são espuma, fio, metal, orvalho… são tão belas que quero pô-las todas no meu poema…agarro-as em voo e caço-as, preparo-me diante do prato… e então agito-as, bebo-as, liberto-as… “

Que manjar digno dos deuses…!

2 comentários:

  1. Que maravilha!!!!!
    Neruda é único!!!!!!!!
    abs,

    ResponderEliminar
  2. "Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde, amo-te simplesmente sem problemas, nem orgulho;amo-te assim porque não sei amar de outra forma" Simplesmente Neruda...

    Maravilhosoooooooooooooooo

    ResponderEliminar